Wednesday, June 01, 2011

Todas as vezes que te fiz chorar

Existe, não sei onde, um tal vilão, como aqueles das histórias em quadrinhos, que vaga disfarçado pela noite, fugindo de inimigos cheios de virtudes e planos bons. Ele mesmo, esse monstro, nascera com poderes sobre-humanos, mas a sina do pobre desgraçado era perder cada um de seus poderes toda vez que encontrasse perdido pelo mundo um jovem de coração selvagem, e se apaixonasse terrivelmente por ele. A sua paixão seria de tal forma arrebatadora, que ele cederia, quase sem escolha, alguma de suas próprias virtudes, até o dia em que se tornasse uma figura tão monstruosa, que já não pudesse ser amado nem pelas criaturas que ajudara a formar. Luz e sombra em um mesmo rosto, vida e morte. Dizem que com os anos, super-homens ingratos se voltaram contra ele, pela vergonha indiscreta de serem filhos tortos de todo o avesso do mundo, do oposto da beleza e da bondade. Vez ou outra, ainda o enxergam de relance em espelhos, reflexos n'água, vitrines das lojas, mas tudo tão rápido, que quando voltam à consciência, já não o encontram mais. Apenas o supõem para além de toda banalidade, apenas suspeitam que em algum lugar, implacável e ausente, um monstro resiste, vivo, e nem o dia mais ensolarado fará amanhacer os cantos mais escuros de sua alma.

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