Existe, não sei onde, um tal vilão, como aqueles das histórias em quadrinhos, que vaga disfarçado pela noite, fugindo de inimigos cheios de virtudes e planos bons. Ele mesmo, esse monstro, nascera com poderes sobre-humanos, mas a sina do pobre desgraçado era perder cada um de seus poderes toda vez que encontrasse perdido pelo mundo um jovem de coração selvagem, e se apaixonasse terrivelmente por ele. A sua paixão seria de tal forma arrebatadora, que ele cederia, quase sem escolha, alguma de suas próprias virtudes, até o dia em que se tornasse uma figura tão monstruosa, que já não pudesse ser amado nem pelas criaturas que ajudara a formar. Luz e sombra em um mesmo rosto, vida e morte. Dizem que com os anos, super-homens ingratos se voltaram contra ele, pela vergonha indiscreta de serem filhos tortos de todo o avesso do mundo, do oposto da beleza e da bondade. Vez ou outra, ainda o enxergam de relance em espelhos, reflexos n'água, vitrines das lojas, mas tudo tão rápido, que quando voltam à consciência, já não o encontram mais. Apenas o supõem para além de toda banalidade, apenas suspeitam que em algum lugar, implacável e ausente, um monstro resiste, vivo, e nem o dia mais ensolarado fará amanhacer os cantos mais escuros de sua alma.
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