Monday, April 25, 2011

Esses marginais

São meio tortos, meio avessos, meio filhos de tombos e levantadas, daquelas trombadas de caminhão com bicicleta; tão calejados, sobreviventes, a vida nunca foi fácil, mas é tanta beleza, o deus do acaso consola, da malandragem, da sapiência, quem foi que os fez assim? E seguem na sombra, na vadiagem, na cartada de mestre, e a malícia inocente de quem nem sabe o que é, apenas joga, apenas continua instintivamente, como se fosse da própria natureza jogar. E ganham quase sempre, porque quando se perde foi a vida que entrou no meio e nem interessa mais o que foi que os deixou assim: lindos, como quem só tem defeitos. Ninguém jamais beijou como eles, porque ninguém entendeu o beijo com tanta sabedoria. É ali que eles descansam da guerra, ali que confessam seus segredos desesperados, e é tanto desespero, é tanto segredo e é tanta vontade, que beijam como beijam os deuses.

1 comment:

Ricardo Ramory said...

Misteriosamente óbvio aos olhos dos Deuses que criaram com tanta sabedoria a arte de expressar com a alma aquilo que pra nós um dia, quem sabe, será!

Sublime!