Tuesday, May 12, 2009

Dos Olhos do Leblon

Quando me encontraram, eu estava na sarjeta, bêbado, inconsolável na frente de um bar. A chuva tinha lavado as ruas de Ipanema noite adentro. Colocaram-me num carro, disseram: leva para casa, ele não está bem. Alguém sintonizou Aimee Mann no rádio e achou conveniente para a ocasião. Eu lembro que o Rio estava debaixo d’água, sem trocadilho fácil, tudo era água, o que escorria dos olhos, do Leblon, dos cabelos. Eu nem sei se chorei. Depois me puseram numa cama e eu dormi de sapatos. Acordei no meio da noite como se estivesse faltando alguém, mas eu não tinha ninguém para faltar. A casa estava escura, toda apagada. Na penumbra, eu não reconheci as fotos da parede. Onde é que eu estou? Abri a janela, aos primeiros raios do dia, o Leblon já secava as suas lágrimas.

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