Monday, December 15, 2008

La Cubanita

O mar batia forte na parede de pedra. Eu assistia intacto à menininha que rodopiava. Era um pouco de tudo, crioula, criança, cigana, puta. Veio chegando e disse que eu era bonito, sorriu e mostrou que não tinha todos os dentes na boca, mas cheirava a lavanda, como se acabasse de se banhar. E me mostrava a calcinha sempre que dava, perguntava se eu queria me casar com ela, se eu queria mostrar para ela o mundo do lado de lá, do lado de fora, mas a ilha é tão linda, pero una isla es una porción de tierra rodeada de água por todos los lados, e era tanta água, que a parede de pedra não agüentava e deixava derramar na calçada uma espuma escura de petróleo e sal, como se mesmo o mar quisesse invadir de novos sonhos aquele lugar. E a menina dançava, piscava os olhos e paquerava comigo, me dizia que tinha todo o futuro pela frente, e me prometeu de joelhos, que se eu a levasse dali, não me atrapalharia em nada, nem me amar me amaria, se eu preferisse, não sentiria gratidão, e quando chorasse, seria de saudade da ilha, porque mesmo velha e abandonada, a ilha era a sua casa, comprendes, chico? Yo comprendo. Ela contou como seria a tatuagem no seu braço, as cores da bandeira que faria no punho esquerdo, para mais tarde, quando fosse mulher, explicar seu desapego, porque também se abandona por amar demais. É louco isso, eu pensei, por gostar demais você vai embora, mas ela, tão danada, me contou que a ilha não passava de um plano: a ilha era um projeto em mil. Outras ilhas viveriam dentro dela, perto ou longe, trancada ou livre. No puedo casarme contigo, mi amor. Ela me olhou desapontada. Levantou mais uma vez a saia no último passo daquela dança, para que eu visse bem acima dos seus joelhos. Na triste incerteza das calçadas de Havana, la cubanita só pensava em negociar sua alforria.

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