Thursday, December 31, 2009

Sorte no Jogo

Alguém ainda celebra desavisado a noite de ontem, cambaleante na chuva, canta música para o ano que nasce. E o humor desajeitado dos que venceram e olham o céu cansado de tanta promessa - cinza, na medida do possível.   “Seremos ricos, saudáveis e felizes no ano que vem”, prometem de novo com seus velhos trejeitos, mas ninguém ousa cantar que tudo será exatamente igual, mesmo quando nada foi de todo ruim, apenas estranho, apenas rápido demais, sempre cantam uma vida nova, envergonhados do que já passou, ou simplesmente calejados pelos amores antigos. Mas que bobagem. Seremos iguais e choraremos os mesmos erros em repetições sistemáticas de nós mesmos, nossos espelhos eternos virados um para o outro num corredor sem começo nem fim.

 Eu sei que eles venceram. Preciso reconhecer que era guerra vã desde muito antes de eu existir, mas não me pareciam tão alegres assim, talvez por isso se agarrassem àquelas horas úmidas de pretensa felicidade e olhassem para mim exaustos de tanto esperarem por ontem. Eu os olhei de volta e prometi que saberia perder , mas perder não é uma sabedoria. Sempre se perde pela primeira vez, e é como se a vida não nos tivesse ensinado nada até então. Então eu olhei nos seus olhos pela primeira vez, me despedi pela primeira vez, e andei na chuva, cada paisagem escura e vazia pela primeira vez, porque o Rio dormia cansado da guerra.

                                                               ***

O tempo sempre invejou o meu humor. E é porque estou triste, que chove, chove, chove. Hoje, eu pintaria de cinza todas as outras cores, só para vê-lo sorrir como num retrato antigo, só para juntar areia, mar e céu num horizonte que não se enxerga a sete passos daqui. 

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