Tuesday, October 27, 2009

A saudade é uma cidade vazia


Era o dia seguinte de tudo, a cidade devastada por um terremoto, os corpos semivivos entre espasmos, e o mar se curando de uma ressaca há dias, aliviado de um estranho carnaval. Eu acordei bem cedo, caminhei pela orla sem perceber a cidade vazia, li duas páginas de um livro, rascunhei umas palavras no caderno para lhe dizer depois. O mundo estava visivelmente diferente de quando fomos para a cama. Os jornais noticiavam a colisão frontal de dois planetas, com conseqüências devastadoras que ainda era cedo demais para entendermos. Então eu esperei que você acordasse, sentado sozinho na areia da praia. Talvez você nunca viesse, talvez o mundo estivesse mudado demais para falarmos de coisas amenas como antes de tudo e você preferisse nunca acordar, mas eu esperei, não sei por quanto tempo esperei. A cidade silenciosa como um sonho, o verão glacial dos meses que não existem dava saudade de tudo que foi bom entre nós.

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