Passou rápido. Existiu em tão breve
instante, que sem grande esforço não teria mais lugar. Apertou-se elegante ali
entre dois fachos de vida, fez lembrar o sol que entra desavisado pelas frestas da noite. Um espasmo, lapso, aquele dia de verão que vem a
deboche dos invernos resignados para lembrar que o
verão ainda existe, que o verão espera lá fora. Latente, covarde.
Tudo depois foi ressaca; um
tempo que se prolonga em tentar entender as coisas vivas, um respeito absoluto
por todas as coisas vivas. Como a casa
depois da festa ainda é festa, como a rua depois do bloco
ainda é carnaval. Mas lembrar que naquele filete de tempo em que esteve, naquela fração invisível de tempo entre todas as coisas que existem de fato, eu olhei fundo nos olhos dele e eles eram assim da cor do abismo. A vertigem nua do amor da qual ninguém sai ileso. Nunca.
Passou rápido. Existiu em tão breve instante, que sem grande esforço não teria mais lugar. Mas veja como a vida é irônica:
o sopro fez lembrar o furacão. No quarto de uma noite só, eu arrumo a bagunça
de uma vida inteira.
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