Eu espreito
o seu sono. Você nem sabe. Antes de amanhecer, antes de nós, antes de você
saber que existe, eu vigio o seu sono, curioso por ele. Tudo antes da
vida começar de novo, tudo de novo, amanhã e depois, você dorme e nem sabe, mas eu
espreito o seu sono.
Tem uma
infância guardada nele. Tem uma
guerra, um país e um precipício. E tem noites inteiras de um mar revolto, um
barquinho que leva ora para o Atlântico, ora para o Pacífico.
Eu conheço
o seu sono tão bem. Sabe-se lá porque razão, ele
vem sempre antes do meu; e me esnoba, e se estende orgulhoso de seu território
sobre todas as coisas vivas.
E em nascendo em pequenos espasmos; sua mão sobre a minha avisando de que vai dormir, depois um sopro forte do pulmão, como o de uma janela deixada aberta para um mar sem fim. E você vai se ausentando de repente, vai fugindo dessa festa descarada, que já teve o seu tempo, mas não agora. Então, você dorme e o seu sono é o dono do mundo. É o dono de qualquer lugar que seja a vontade de ser lugar nenhum.
E em nascendo em pequenos espasmos; sua mão sobre a minha avisando de que vai dormir, depois um sopro forte do pulmão, como o de uma janela deixada aberta para um mar sem fim. E você vai se ausentando de repente, vai fugindo dessa festa descarada, que já teve o seu tempo, mas não agora. Então, você dorme e o seu sono é o dono do mundo. É o dono de qualquer lugar que seja a vontade de ser lugar nenhum.
Eu protejo
o seu sono, porque é nele onde você se esconde de nós. É lá que toda mágoa se
dissipa, só lá que qualquer mágoa não existe de verdade.
E eu vigio o seu sono pela madrugada adentro. Lá, bem longe da tempestade, vive o amor em silêncio.
E eu vigio o seu sono pela madrugada adentro. Lá, bem longe da tempestade, vive o amor em silêncio.
1 comment:
muito bonito!
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