Sunday, March 14, 2010

A noite não tem culpa se te faz pensar coisas tristes.


-  A noite não tem culpa se te faz pensar coisas tristes.  

- Eu me lembro de nós dois nesse mesmo lugar. Ele e eu. Quase mais ninguém aqui dentro, a luz do dia entrando pelas frestas.  

- Você também sente formigar as suas mãos? Fecha os olhos. 

- Engraçado como tão rápido a gente se tornou estranhos. Ele passou agora aqui e era como se nunca tivesse me conhecido na vida.

- Tem um vento frio que vem de fora. Acho que de alguma janela. Parece um abraço de tão bom. Você sente?

-  É como se tudo fosse tão frágil. As pessoas todas. Eu o amava de verdade. Você acredita? Era de verdade.

- Eu podia morrer agora de tão feliz.

- E hoje se você me perguntar se eu o conheço, se eu tiver que dizer alguma coisa sobre ele, sei lá, é só um estranho.

- Você precisa fechar os olhos e pensar coisas boas.

- Uma vez eu te perguntei: “mas por que diabos eu gosto dele?”

- Escuta! O dj, quando é bom, é como se segurasse a mão de cada uma de nós.

- Você respondeu uma coisa que eu nunca vou esquecer. Você disse assim: “amá-lo não seria tão bom, se odiá-lo não fosse tão mais fácil”.

- Você se lembra de Ubatuba? Nós dois bêbados na praia?

- Segura um pouco a minha mão. Acho que vai bater.

- Aquele dia na praia foi um dos melhores dias da minha vida.

- Tem um vento bom aqui, né?

-  Quando eu era criança, minha mãe lia para eu dormir, e depois dizia no meu ouvido: "criança que dorme pensando em coisas boas aprende a voar".   

- Ela lia Peter Pan para você. Eles precisavam pensar em coisas boas para poder voar.

- Eu sei que eu apertava os olhos e tentava imaginar tudo de bom que pudesse existir, para poder voar nos sonhos.  Mas nem sempre eu conseguia, sabe? E eu não guardo mágoa de ninguém.

- Shhhhh! Fica calado um segundo. Sente a onda bater.

Então se calaram finalmente e permaneceram assim por uns bons minutos, curtindo todas as entranhas do pensamento.  

- Voando alto?

- Ainda não.

-A noite não tem culpa se te faz pensar coisas tristes.

  

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