Tuesday, July 08, 2008

Plácido

Plácido gostava de escrever cartas. Várias, longas, memoráveis. Falava de amor e das coisas difíceis. Depois, as abandonava sob as portas das casas, órfãs, na esperança inconfessável de ser revelado. Foi assim por muito tempo: as cartas anônimas e as almas despertas da madrugada. Até o dia, acho que em julho, que Plácido estancou completamente. Já não encontrava mais palavras nas suas idéias. E por várias noites, seus amantes cativos se sentiram profundamente solitários. Plácido vivia um vazio tão grande que não podia dividi-lo. Acho que se o fizesse, devastaria o mundo inteiro com tanto silêncio. Concluiu, sábio, que para voltar a escrever não lhe faltavam idéias, mas angústias. Resolveu angustiar-se. Pela primeira vez em semanas, escreveu longamente.

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