Sunday, January 21, 2007

Sublime

E então no meio da noite perguntou-lhe se era feliz. Como se fosse assim tão simples. Ela respondeu: Você sabe..., andou até a janela, suas unhas postiças cintilavam o estranho azul que fazia a noite e seus cílios enormes quase tocavam o céu, A vida não é um filme, respondeu procurando na voz a lembrança da mulher noir. Ela era "Sublime", não só de fato, mas de nome, era assim que a chamavam desde do tempo do pocket show às terças no antigo teatro do centro. O homem insistiu, queria mesmo saber o que não se pergunta a ninguém depois das onze,  É ou não é?, ela inclinou suave o pescoço para a direita, seus lábios vermelhos borrados de batom, o pó de arroz escondendo as marcas da pele; sob o vestido de gala, os seios de plástico, Se eu dissesse que sou feliz, você não entenderia porque toda noite eu desabo e choro. E se eu dissesse que não sou feliz, essa mulher não faria sentido, o tempo que eu levo em frente ao espelho, o cabelo, a boca, os olhos. E então, o homem que estava sentado levantou-se e encheu as duas taças de champanhe. Sublime deixava cair pequenos pedaços no carpete vermelho que brilhavam mais que as estrelas. O homem a abraçou por trás, ficou parado, apoiando o queixo sobre um de seus ombros. Sublime sorriu, sentiu-se protegida, esforçou-se para não chorar, mas sabia que as concessões da noite jamais sobreviviam aos primeiros caprichos da manhã.

4 comments:

Antonio said...

Muito bom seu texto! apesar de curto, permite uma boa aproximação com os personagnes!...da hora!

Anonymous said...

"I'm trying to tell you something about my life
Maybe give me insight between black and white
And the best thing you've ever done for me
Is to help me take my life less seriously
It's only life after all"

- Closer to Fine, Indigo Girls.

The closest I've got in a while.

Anonymous said...

sublime, como sempre. eu continuaria.

Anonymous said...

Minutos de leitura... Sublime! Abrass